Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Contabilidade e os desafios da mudança real

O texto destaca que o conceito de competência passa a ser central na formação do contador, exigindo não apenas conhecimentos técnicos, mas a mobilização desses saberes em situações concretas e contextualizadas. A abordagem teórica de Bernstein evidencia as dimensões sociopolíticas desse movimento, mostrando que as competências selecionadas refletem relações de poder e prioridades institucionais. Já Perrenoud ressalta a operacionalização prática: competência é agir de modo autônomo diante dos desafios reais da profissão.

O editorial aponta que a adoção do modelo por competências implica em mudanças profundas. Não basta reformular ementas ou métodos; é necessário repensar os objetivos formativos, a integração entre teoria e prática, o papel dos professores e o perfil profissional almejado. O risco é que mudanças se limitem a ajustes superficiais para atender formalidades, sem impacto verdadeiro na formação do egresso. Para evitar esse cenário, o envolvimento coletivo de coordenadores, professores, estudantes e profissionais do mercado é fundamental.

Entre os desafios, o texto enfatiza a necessidade de contextos institucionais favoráveis e de um investimento forte no desenvolvimento pedagógico dos docentes. Muitos professores foram formados em modelos tradicionais, o que exige um esforço deliberado de capacitação para que possam criar situações de aprendizagem autênticas, avaliações alinhadas ao novo enfoque e uma articulação real entre conhecer, fazer e ser.

A discussão também ressalta que o ensino por competências não descarta o conhecimento técnico, mas demanda sua articulação com habilidades e atitudes, buscando a formação de um profissional capaz de lidar com problemas complexos da profissão. A avaliação, por sua vez, deve transcender provas e trabalhos convencionais, explorando métodos diagnósticos, formativos e qualitativos.

O editorial termina com questionamentos provocativos sobre o futuro da formação contábil, lembrando que as escolhas feitas agora definirão o legado da profissão. A adoção das novas DCNs pode se tornar apenas um cumprimento burocrático ou representar, de fato, a construção de profissionais preparados para um mundo em rápida transformação."