Como falar de uma parte sem falar do todo, por isso, começo relembrando um pouco da história de criação desta Universidade Federal do Paraná (UFPR). E que história, pois foi marcada por grandes feitos e está muito ligada à história de desenvolvimento do Estado do Paraná. Foi a ousadia e a competência dos seus idealizadores, motivados pela sociedade paranaense, que fizeram da UFPR a mais antiga universidade do Brasil.

Sonho antigo, pois em 1892, o político Rocha Pombo lança, na Praça Ouvidor Pardinho, a pedra fundamental de uma futura universidade. Mas, devido à instabilidade gerada pela Revolução Federalista que ocorria no Sul do Brasil em função da divergência entre as elites federalistas e republicanas, o projeto não foi adiante.

Foi apenas em 1912, quando avaliou que o Paraná precisava de mais profissionais qualificados, que foi iniciado um movimento pró-Universidade do Paraná. Nessa época, as lideranças políticas também se mobilizaram em prol da criação de uma universidade. No dia 19 de dezembro de 1912, Victor Ferreira do Amaral e Silva liderou a criação efetiva da Universidade do Paraná. Era uma época de progresso da economia paranaense, devido à abundante produção e ao próspero comércio da erva-mate.

“O dia 19 de dezembro representou a emancipação política do Estado e deve também representar sua emancipação intelectual”, Afirmou Victor Ferreira do Amaral.

Em 1913, a Universidade começou a funcionar como instituição particular. Os primeiros cursos ofertados foram Ciências Jurídicas e Sociais; Engenharia; Medicina e Cirurgia; Comércio; Odontologia; Farmácia e Obstetrícia. Após ter fundado a Universidade do Paraná, Victor Ferreira do Amaral – que foi também seu primeiro reitor – iniciou com empréstimos a construção do prédio central, na Praça Santos Andrade, em terreno doado pela Prefeitura.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914) vieram a recessão econômica e as primeiras dificuldades. Dentre elas, uma lei que determinava o fechamento das universidades particulares, numa tentativa do Governo Federal de centralizar o poder sobre as instituições de ensino superior. Somente em 1950 a Universidade do Paraná foi federalizada e constituída sob a denominação de Universidade Federal do Paraná, e de lá para cá só cresceu e se destaca hoje como uma das mais importantes do País.

Para dar sequência ao meu relato, se me permitem, gostaria de contar um pouco da minha história como professor desta UFPR há 37 anos, o que me permitiu vivenciar as principais mudanças que ocorreram no nosso querido Decont- Departamento de Ciências Contábeis. Em 1980 conclui o curso de Ciências Contábeis na FAE, e no ano seguinte fui convidado pelo meu ex prof. Dionisio Olichevis para ser seu monitor na disciplina de Auditoria que ele ministrava no quarto ano do curso.

Durou somente 1 aula essa monitoria, que foi a primeira aula, pois nunca mais ele voltou para a sala de aula,  eu assumi a disciplina, mas exigiram que eu fizesse um curso de Metodologia Científica de 60h, pois eu só tinha a graduação e dezenas de cursos de pequena duração. O que cumpri. Após 2 anos, fui convidado para ser o coordenador do Curso, e permaneci até o início de 1989, sendo que durante o dia trabalhava no saudoso Bamerindus, gerenciando a área contábil do banco e de várias empresas que formavam um conglomerado financeiro, trabalhei por 22 anos nessa instituição.

Em 1988 eu e o prof. Luiz Carlos de Souza, até hoje colega de Decont, fomos convidados pelo então chefe de Departamento do Decont, o saudoso prof. Walberto Steiner, a sermos professores visitantes e a coordenarmos a implantação de um TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, até então inexistente no Decont, e que havia na FAE, e que era de grande sucesso. Em 3 meses, cumprimos com essa missão, sugerindo a implantação de um TCC nos moldes do que tínhamos na FAE, com várias adaptações, dentro dos moldes exigidos pelo Regimento do Curso. Por muitos anos esse modelo permaneceu, mas o tempo exigiu mudanças, que ocorreram.

No início do ano de 1989, participamos de um concurso para professores e fomos aprovados. Na época, a quantidade de candidatos era muito grande, lembro que no nosso processo de seleção eram 30 candidatos, por área de escolha. Banca difícil.

O Decont tinha perto de 13 professores, todos do sexo masculino e nenhum tinha mestrado na área contábil, sendo que o professor Josué Brisola, hoje aposentado e que fora nosso diretor no período de 1999-2002, estava concluindo o seu mestrado na USP em contabilidade. Tínhamos também o saudoso prof. Gilberto Marcondes Ribas, formado em outra área, e que tinha mestrado em Educação. Os outros, alguns, tinham algum curso de aperfeiçoamento e, com certeza, todos tinham dezenas de cursos de pequena duração, muito comuns na época.

Os professores, na sua maioria, eram 20 horas, o que era o meu caso também. Pois tínhamos sempre uma segunda ou primeira atividade, tipo fiscal do BC, ou da RF, ou contador no INSS, da Prefeitura, gerentes de banco, dono de escritório de contabilidade, etc.

O nosso Departamento, dentro do Setor de Ciências Sociais, até 2002, era o menor, porque tanto Administração quanto Economia já tinham os seus pós-graduação e ofertavam cursos diurnos e noturnos, e nós somente noturnos. Característica marcante dos cursos de Contabilidade, como eram conhecidos na época.

O envolvimento dos nossos professores com os órgãos de classe era notório, eu fui vice-presidente do CRCPR, presidente da ACCPR, o prof. Luiz Carlos de Souza, foi além de conselheiro do CRCPR, também foi conselheiro junto ao CFC, o Prof. Eluiz Maria Miqueletto foi conselheiro do CRCPR, e é diretor da ACCPR, e o nosso saudoso prof. Walberto Steiner foi presidente do CRCPR, há muitos anos.

A minha trajetória acadêmica, como professor no regime de dedicação exclusiva, está muito ligada com a história da criação do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade, inicialmente ofertado somente curso de mestrado e após doutorado, oportunizando posteriormente a que diversos alunos realizassem o seu estágio de pós-doutorado.

Em 1992, participei do processo de seleção para ingressar no mestrado em contabilidade da USP, coordenado pelo CFC, ao nível nacional, com 12 vagas. O programa era voltado exclusivamente para qualificação de contadores, professores em Instituições de Ensino Superior Pública – Estadual e Federal. Fui selecionado e iniciei o curso de nivelamento com duração de 4 meses, com 4h de aulas diárias, no campus da USP, nas instalações do EAC/FEA/Departamento de Contabilidade. Na época, foram meus professores Iudicibus, Marion, Catelli, Eliseu Martins, Corrar, entre outras celebridades, todas referências no cenário nacional.

Finalizado o curso de nivelamento, fui aprovado e cursei o mestrado no período de 1993 a 1994. Defendi a minha dissertação em 1995, após ter passado 6 meses na Universidade da Pensilvânia, com carta de recomendação do meu orientador Prof. Dr. Sérgio de Iudicibus. Fiquei 3 anos afastado do Decont para cursar o mestrado, e no meu retorno, as novidades eram boas.

Com o ingresso no quadro de professores no Decont dos professores Moises Prates Silveira e Blênio César Severo Peixe, aumentou a quantidade de professores titulados com mestrado. Em seguida, ingressaram os professores Wilson Spinoza e Mauro Halfeld, ambos com doutorado. Ufa! Enfim, começamos a ter professores titulados doutores, uma novidade na época no Decont.

Em agosto de 2002, ingressou no Decont o prof. Dr. Lauro Brito de Almeida, Economista com Doutorado em Ciências Contábeis – Área de Concentração em Controladoria e Contabilidade pela EAC | FEA | USP - que fora meu contemporâneo na época do mestrado na USP - com produção científica, atendendo um dos requisitos para criar o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Contabilidade

Nesse período, o prof. Luiz Carlos de Souza ingressou no curso de mestrado em ciências contábeis na PUC em SP, o prof. Luiz Rogério Farias cursou o mestrado na UFSC e eu iniciei o meu doutoramento no Programa de Pós-Graduação na Engenharia de Produção da UFSC. Nesse contexto, o Decont foi se fortalecendo com a qualificação acadêmica de seus docentes.

O Decont era muito forte na área de especialização, tínhamos diversos cursos, com aulas aos sábados, e éramos um destaque nessa área dentro da UFPR o que trazia para o Decont, além de reconhecimento, verbas. Ofertamos cursos, além de Curitiba, em Irati, Cuiabá, Rondonópolis, Palotina, e tínhamos algumas parcerias, tipo SENAC, IEL, FIEP, entre outros.

Porém, um mestrado acadêmico em contabilidade faria toda a diferença, no papel da UFPR para contribuir com a sociedade, em especial no estado do Paraná. Os chefes de departamento em exercício na época, professores. Dalvino Nunes da Lapa Junior, já aposentado, Jackson Ciro Sandrini, e o saudoso Gilberto Marcondes, sempre pautavam propostas para a criação do curso de mestrado em Contabilidade pelo Decont. Um dia teria que acontecer.

Esses professores com certeza começaram a regar uma plantinha chamada de Programa de Pós-Graduação em Contabilidade, mestrado acadêmico. Na época, para aprovação do curso de mestrado acadêmico em contabilidade, além de um corpo mínimo de professores doutores do Departamento, havia outras exigências como espaço físico e biblioteca adequada, entre outros.

Nesse período, eu estava na fase final de conclusão do meu doutoramento em Engenharia de Produção na UFSC. Para a criação de um Programa de Pós-Graduação, o rito exigido tanto internamente como do órgão regulador CAPES era insano, um verdadeiro exercício de Fé! O passo inicial para a criação do programa era escrever um consistente e realista projeto. Envolveram-se nesse empreitado os professores Moisés Prates Silveira, Blênio Severo Peixe, Lauro Brito de Almeida, Josué Brisola e Wilson Spinoza; hoje todos estão aposentados.

Não podemos esquecer que contamos com a inestimável colaboração externa do Prof. Dr. Fábio Frezatti, que em suas visitas ao Decont sempre nos orientava. Da mesma forma, foi fundamental o apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, cujo Pró-reitor esteve sempre presente no atendimento de nossas demandas.

O Decont integra o Setor de Ciências Sociais Aplicadas desta UFPR e o diretor da época, o saudoso prof. Dr. Luiz Vamberto Santana (falecido em 02/10/2025), diretor do período de 2002 a 2006, sempre estava nos incentivando, apoiando e presente nos encaminhamentos necessários. A eles, o nosso muito obrigado.

A primeira Ata que registrou o início do PPGCont data de 03 de janeiro de 2005, e contou com a presença da prof. Dra. Ana Paula Mussi Szabo Cherobim do DAGA, da prof. Dra. Leilah Santiago Bufrem do DECIGI, do prof. Dr Ademir Clemente, Decont, do prof. Dr Lauro Brito de Almeida, Decont e Vicente Pacheco, do Decont também participaram professores de universidades estaduais, convidados para participarem no nosso Programa, podemos citar a participação do prof. Dr. Jaime Crozatti, da UEM, do prof. Dr. Paulo Olak da UEL, do prof. Dr. Valdir Michels da Unicentro de Guarapuava e do prof. Dr. Luiz Antonio Brandalise da UEPG.

Do grupo de professores das Universidades Estaduais, nosso especial agradecimento ao Prof. Dr. Jaime Crozatti, muito atuante, lecionou no Programa, entregando-se inteiramente ao PPGCont.

A reunião de criação foi aberta pelo prof. Dr. Lauro Brito de Almeida, indicado como Coordenador no Projeto aprovado pela Capes, tendo como vice coordenador o prof. Dr. Ademir Clemente, que viera recentemente para o Decont, pois era professor aposentado do Departamento de Economia, e que tinha sido indicado como vice coordenador.

Foram criadas duas áreas de Pesquisa, Contabilidade Gerencial, que ficou sob a responsabilidade do prof. Dr. Lauro Brito de Almeida e Finanças Corporativas, que ficou sob a minha responsabilidade. Assim, em 2005, procedemos à abertura oficial do Edital de Seleção e tivemos os nossos primeiros alunos.

Como o PPGCont não contava com número suficiente de titulados com doutorado, a participação de professores de outros departamentos do Setor de Sociais Aplicadas, viabilizou o funcionamento do programa.

É imperioso lembrar e agradecer, não somente pela participação, mas pela dedicação da Professora Doutora Ana Paula Cherobim, docente do DAGA, do Professor Doutor Paulo Mello Garcias, do Departamento de Economia e da Professora Doutora Leilah Santiago Bufrem do DECIGI. Ainda, do DAGA, nossos agradecimentos ao Professor Doutor Pedro Steiner Neto, por receber nossos alunos em sua disciplina de métodos quantitativos e, por apoiar nossos alunos, nunca se furtando em orientá-los quando se fazia necessário.

Na época, fizemos um convênio com o PPG em Administração da PUC PR, e fazemos questão de registrar nossos agradecimentos aos Professores Alceu Souza (aposentado desta UFPR) e Wesley Vieira da Silva, pelo acolhimento de nossos alunos, participação entusiasmada em nossas bancas e parcerias em pesquisas.

O PPGCont, especialmente na primeira turma contribuiu sobremaneira para qualificação dos professores do Decont, oportunizando que os professores, Jackson Ciro Sandrini, orientando da prof. Dra. Ana Paula; Eluiz Maria Miqueleto e Moacir José Soares (aposentado), que foram meus orientandos, se titulassem.

A partir dessa data o Programa foi se estruturando, mas faltava espaço físico, e recursos para aquisição de móveis e utensílios, para custear a manutenção das instalações, aquisição de materiais de consumo, despesas com viagens, hospedagens e refeições de professores convidados.

Além disso, era necessário a alocação de um colaborador(a) para exercer a função de secretário (a) do PPGCont. No entanto, as despesas com almoços, deslocamento de professores visitantes, aconteciam, e os nossos bolsos bancavam.

O então coordenador da época, prof. Dr. Lauro Brito de Almeida, percorria um verdadeiro calvário: batia de porta em porta para arrumarmos recursos, pois os alunos precisavam de bolsa, de diárias para congressos, dinheiro para inscrições em eventos, as bancas começaram a acontecer e tínhamos que custear as passagens dos professores externos, ufa.

Parabéns prof Dr. Lauro Brito de Almeida, você percorreu os caminhos possíveis para que desse certo. Deu. Valeu a pena.

O sucesso do Programa de Mestrado nos fez sonhar com voos mais altos, tipo um Projeto de Doutorado, que veio a se tornar realidade em setembro de 2013. Cabe destacar que o PPGCont é um dos Programas fundadores da AnpCont, representado na época pelo nosso coordenador prof. Dr Lauro Brito de Almeida.

Mas nesse tempo o PPGCont já estava fortalecido com vários doutores do próprio Departamento, pois já contávamos com os professores Drs. Romualdo Douglas Colauto, Ademir Clemente, Luciano Márcio Scherer, Mayla Cristina Costa, Márcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo , Ilze Maria Beuren, Lauro Brito de Almeida, Jorge Scarpin, Luiz Panhoca, Simone Bernardes Voese, Vicente Pacheco e de outros departamentos do nosso Setor, profs. Drs. Marcos Wagner da Fonseca, Rodrigo Oliveira Soares e Paulo Mello Garcias.

Na data de 24 de setembro de 2015, foi realizada a 40ª Reunião do PPGCont e que tinha na pauta: item 2. Projeto de Doutorado do Programa. Para essa leitura, foi designado o prof. Dr. Romualdo Douglas Colauto, Presidente da Sessão, que fez o relato e comunicou que a CAPES tinha aprovado a criação do nosso doutorado em Contabilidade.

Nessa reunião participou como convidado o prof. Jackson Ciro Sandrini, que fora aluno do nosso mestrado e que na época ocupava o cargo de Chefe de Departamento do Decont, que ressaltou a importância de termos um curso de doutoramento em contabilidade no nosso Estado, que era muito raro no nosso país; representando os discentes compareceu à aluna Ana Claudia Afra Neitzke, que posteriormente se tornou minha orientada. Secretariou a Reunião o técnico administrativo, Márcio Rogério de Souza. Colocado em discussão, a proposta foi aprovada por unanimidade.

            O PPGCont criou asas e os nossos sonhos do século passado se tornaram realidade, pois hoje é um Programa Nota 5, reconhecido nacionalmente como um Programa de excelência e que propiciou a muitos alunos a oportunidade de se qualificarem e buscarem uma carreira alicerçada no conhecimento adquirido enquanto aluno do Programa.

Parabéns ao nosso PPGCONT e que a futura comemoração dos 40 Anos seja tão festiva quanto essa e com as nossas presenças."